sexta-feira, 19 de junho de 2020



Fumantes têm 45% mais chances de complicações com a Covid-19, revela estudo 

A pessoa que fuma, ao entrar em contato com a Covid-19, torna-se ainda mais vulnerável, com 45% mais chances de sofrer complicações de saúde. A ciência explica que o cigarro não produz um efeito protetor contra a Covid-19, pelo contrário, aumenta a produção de uma célula que facilita a penetração do coronavírus nos pulmões, favorecendo a infecção e aumentando os riscos de complicações com a Covid-19. 


O alerta foi feito pelo presidente da Sociedade Paulista de Penumologia e Tisiologia, Frederico Fernandes, no debate virtual Tabagismo e Risco Potencial para a Covid-19, transmitido nesta no dia 27/05 pelo canal do Instituto Nacional de Câncer (INCA) no Youtube, em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco, promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil. 



Durante a live, a professora da Universidade da Califórnia São Francisco, Stella Bialous, apontou estratégias de marketing utilizadas pela indústria do tabaco durante a pandemia, disfarçadas de ações de responsabilidade social, com a intenção de promover o consumo. 


A jornalista Lígia Formenti, consultora de Comunicação do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), atuou como mediadora. 



O pneumologista Frederico Fernandes destacou que, em suas diferentes formas, o tabaco contém mais de 4,5 mil substâncias tóxicas e mais de 90 substâncias cancerígenas. 



A pessoa que fuma, segundo o especialista, tem maiores chances de desenvolver uma série de problemas relacionados ao tabagismo, como câncer, doenças cardiovasculares, respiratórias e psiquiátricas. 



Desta forma, o fumante torna-se ainda mais vulnerável, com maiores riscos de sofrer complicações ao ser infectado pela Covid-19. 




Tabagismo e Covid-19 


O especialista explicou que o pulmão do tabagista possui, em grande quantidade, uma célula que produz muco para proteger as paredes do pulmão das toxinas do cigarro. 


“Esta célula tem uma substância que funciona como âncora para o coronavírus, permitindo a infecção e fazendo com que ela penetre mais profundamente no pulmão. 



Além disso, a pessoa que fuma tem uma capacidade pulmonar menor que a pessoa que não fuma. 



Na hora da pneumonia viral, as partes acometidas pelo vírus farão mais falta, exigindo mais ventilação mecânica e mais dias de UTI”, alertou. 



O cigarro possui, ainda, substâncias que aumentam a coagulação, segundo Fernandes. 




“Sabemos que uma das principais complicações da infecção por coronavírus são embolias e tromboses. 




É uma doença que aumenta muito a coagulação. 



No indivíduo que fuma, isso é multiplicado, aumentando a morbidade e o risco de a pessoa ter um desfecho desfavorável”. 




Fernandes desconstruiu o mito, difundido por meio de fakenews, de que a nicotina teria um efeito protetor contra a Covid-19, e que os fumantes correriam menos riscos diante da pandemia. 


“Constatamos aumento no consumo de cigarro durante a pandemia, possivelmente, motivado por este tipo de informação”. 




A informação surgiu a partir de um artigo depositado por um grupo de cientistas franceses em um repositório que não sofre nenhum tipo de curadoria, relatou o médico. 



O estudo afirmava que, em pacientes internados em alguns serviços de saúde da China, a prevalência de tabagismo era menor que na população geral. 




O especialista questionou a metodologia empregada e denunciou que os autores não declararam conflito de interesses, embora um deles já tenha trabalhado diretamente para a indústria do tabaco. 



A agência de notícias que divulgou o artigo, conforme Fernandes, é uma espécie de assessoria de imprensa de uma das maiores multinacionais do tabaco. 




O pneumologista brasileiro contrapôs outro trabalho, realizado com uma metodologia de revisão sistemática e meta-análise, de maior evidência científica. 



O estudo demonstra que fumantes têm riscos 45% maiores de complicações por covid-19. 




A mortalidade é 38% maior entre os fumantes, quando internados. 




Se o cigarro já levou o indivíduo a desenvolver uma doença pulmonar crônica, o risco de complicação é 88% maior. 



“O estudo conclui que o tabagismo está associado à progressão negativa e a efeitos adversos da covid-19. 



Quando se interpreta a literatura de forma adequada, o resultado é inverso ao que estava sendo propagado”. 













Autoestima para vencer a dependência 



O Brasil é protagonista na luta contra o tabagismo, lembrou Fernandes. 



“Nos últimos 30 anos, desde o final do século passado até agora, houve uma redução que, eu acredito, nenhum lugar do mundo conseguiu”, observou. 


De acordo com o médico, o Brasil possui 9% de tabagistas entre a população adulta, o que representa 20 milhões de pessoas. 



Para o pneumologista, o tratamento do tabagismo envolve mudança no estilo de vida e medicações, como o adesivo de nicotina, por exemplo. 



O especialista defendeu uma redução na burocracia para distribuição de medicamentos para os tabagistas pelo SUS. 




O confronto dos familiares, na avaliação do médico, não é recomendado, pois reduz a autoestima do fumante. 



“Para conseguir parar de fumar, é preciso gostar de si mesmo. 



O estabelecimento de metas funciona como reforço positivo”, aconselhou. 



Mídias sociais: a nova arma da indústria do tabaco 



A professora da Universidade da Califórnia, Stella Bialous, observou que a indústria do tabaco inova nas formas de atrair o público jovem, que representa as novas gerações de consumidores. 




“Está havendo o crescimento de influenciadores de mídias sociais, usando uma fórmula antiga, fazer o fumo aparentar algo divertido, glamouroso, interessante, de pessoas que são mais ligadas no que está se passando e na atualidade”, destacou. 



Bialous advertiu para o uso de ações de responsabilidade social com intenções promocionais do tabaco. 



Segundo a doutora em saúde pública, as empresas se valem do momento de pandemia para fazer doações aos governos em todo o mundo, inclusive no Brasil. 



“A indústria se aproxima dos governos, tentando se mostrar indispensável, tentando reabrir suas fábricas, como promotora da economia, quando na verdade a gente sabe que os governos, inclusive o do Brasil, perdem muito mais dinheiro do que ganham com a indústria do tabaco, por causa do custo de tratar as pessoas com doenças do tabaco e relacionadas”, apontou. 



Na opinião de Bialous, as doações de insumos para enfrentamento da Covid-19 devem ser consideradas atividades de propaganda e marketing e devem ser contempladas dentro das leis que proíbem estas ações. 


“Na situação atual, é muito difícil exigir que um município não aceite a doação. 



Mas, deveria ser proibido divulgar a doação, transformando-a em um evento de marketing. 




A indústria utiliza este tipo de atividade, de responsabilidade empresarial, como uma estratégia de relações públicas e marketing”, denunciou. 


A professora ressaltou, ainda, a importância de tornar efetivas as medidas da Convenção Quadro, pois são protetivas da população e levam ao desenvolvimento econômico e social de todos os países. 




“É preciso regulamentar e reduzir a influência de lobistas das indústrias de tabaco dentro das esferas de tomada de decisão. Não dá para atender ao poderio econômico de uma empresa que causa mal, que causa prejuízo”. 



Bialous enumerou uma série de medidas que estão em pauta no Brasil e que precisam ser aceleradas para combater o tabagismo. 



Entre estas, estão proibição de anúncio em pontos de venda, aprovação da embalagem genérica, implementação plena da medida de eliminação dos aditivos e sabores, além de manutenção da regulamentação atual, que proíbe a venda dos dispositivos eletrônicos. “O Brasil está em um bom caminho, mas não dá para relaxar. 




A recuperação, inclusive econômica, é muito ligada à redução do tabagismo, que representa um custo enorme aos cofres públicos”. 



Dia Mundial sem Tabaco O debate virtual Tabagismo e Risco Potencial para a Covid-19 faz parte das ações da campanha pelo Dia Mundial sem Tabaco, comemorado todo dia 31 de maio pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 



Neste ano, a abordagem está voltada ao impacto da Covid-19 em pacientes tabagistas. 



As peças alertam para as estratégias de manipulação utilizadas pela indústria de tabaco para atrair novos consumidores, visando principalmente ao público jovem. 



No Brasil, a campanha é coordenada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) e conta com o apoio do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). 



Além do debate, as ações incluem a publicação de um hotsite, com informações sobre a campanha e depoimentos de ex-fumantes que venceram a dependência do cigarro. 



Todo o material está disponível no Portal da Inovação na Gestão do SUS 


(www.apsredes.org).

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.