quinta-feira, 14 de maio de 2020




Surto no Brasil só está no começo, alerta Mandetta 

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 Jamil Chade Colunista do UOL 

 O Brasil já está pagando o preço dos atritos que o governo de Jair Bolsonaro criou com a China, em plena pandemia do coronavírus. 


O alerta é do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. 



Em entrevista à coluna, o ex-chefe da pasta defendeu que o governo se concentre em lutar contra o vírus, e não compre uma briga neste momento com Pequim. 


Mandetta não esconde que tem sérias dúvidas sobre os números divulgados pelos chineses e que acredita que a ciência irá desnudar os problemas que ocorreram no país asiático. Mas insiste que esse debate precisa ficar para depois. "A impressão que eu tenho é que, num local cheio de pólvora, o Itamaraty entra fumando", disse. "Não é o momento de uma briga", afirmou. Mandetta conta como tentou se aproximar do governo chinês e fechar entendimentos com a participação também da Organização Panamericana de Saúde. 


"Se eu não tenho uma boa relação, vai ser difícil o abastecimento (de materiais de saúde)", disse.

Para ele, o surto no Brasil está "apenas começando". 

Nesta quarta-feira, também em entrevista à rede 

americana CNN, ex-ministro não descartou que o número diário de mortes no Brasil ultrapasse a marca dos mil casos.

Mandetta deixou o cargo no mês passado, depois de uma série de desentendimentos com o Planalto sobre a condução da resposta à pandemia. 

Agora, diz que o "tempo vai dizer" quem estava certo. 

Para ele, o surto que já matou mais de 12 mil pessoas no Brasil vive ainda suas primeiras semanas. "Estamos no início", apontou. Segundo ele, o pico pode já ter sido atingido em Manaus. Mas continua a crescer em outras capitais. "E no Sul ele ainda não começou", alertou.

 

"A população não sabe para que lado ela vai", lamentou, numa referência às ordens diferentes dadas por daas por diferentes entidades políticas no país. 


"Eu dizia uma coisa e o presidente dizia outra", admitiu.

Mas o ex-ministro também se preocupa com o posicionamento internacional do país. Nas últimas semanas, o chanceler Ernesto Araújo passou a criticar a China por conta da crise internacional. Além disso, passou a difundir em diferentes fóruns e textos a ideia de que existe um "plano comunista" para moldar a nova ordem internacional que vai se formar no momento pós-pandemia. Filhos do presidente e deputados aliados ao governo também usaram as redes sociais para atacar Pequim. 


Mandetta não esconde que teme que o governo adote uma postura de alinhamento exagerado com os EUA e com um discurso de confrontação às entidades internacionais. 


"Meu medo é de o Brasil com um discurso anti-organizações (internacionais). Os EUA têm musculatura para se defender. Mas nós podemos ficar pelo caminho", alertou

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.